Depois de vários meses para trás e para a frente com a afamada adição do nome da Huawei à Entity List. As coisas acabaram por acalmar um pouco… Aliás, numa dada altura, muitos pensavam que tudo estava resolvido e que a Huawei iria mesmo conseguir voltar a lançar e manter smartphones no mercado sem grandes problemas.

Contudo, agora que o Huawei Mate 30 Pro já foi lançado, todas as dúvidas que outrora pairavam na cabeça dos consumidores, parecem estar de volta!

Mate 30 Pro com o seu ecrã Waterfall


Afinal de contas, será a Huawei um ‘Trojan Horse’ com a grande missão de roubar todos os nossos segredos para os mestres de Beijing? Ou será que é apenas um concorrente legítimo e competitivo à corrida das redes de nova geração 5G?

O reputado site Wccftech teve a oportunidade de participar numa teleconferência em que o tópico foi basicamente este. Discutindo o assunto num painel onde podemos incluir Tom Ridge (ex-secretário do departamento de Segurança Internet Norte Americano), Nate Snyder (ex-funcionário sénior da DHS do tempo da presidência de Obama) e Chris Cummiskey (ex-subsecretário da DHS).

Personalidades que são obviamente a favor da proibição, devido aos laços que têm com o Governo Norte Americano. Mas vamos tentar perceber o que foi dito, e racionalizar um pouco a coisa.

Muitas Insinuações e poucas Provas

1. A formação da Huawei e como é que funciona internamente

Como deve saber, existem vários argumentos contra ao uso de equipamento Huawei nas redes de comunicação ocidentais. No entanto, é fácil chegar à conclusão que existem alguns temas comuns:

  • A Huawei é controlada ou pertence ao Governo Chinês
  • A grande maioria do dinheiro da empresa, vem do Governo Chinês
  • A Huawei é obrigada a ajudar o Governo Chinês, devido às leis do país.

Isto são tudo coisas que já ouvimos várias vezes… Mas que ninguém sabe a veracidade ao certo.

Dito isto, um dos argumentos mais fortes é sem dúvida a ligação da popular fabricante de smartphones com o governo Chinês. Especialmente quando olhamos para a gestão e estrutura de propriedade. 

Portanto, a Huawei afirma que a empresa é dos próprio empregados. Ou seja, os empregados recebem direitos de participação nos lucros através do seu sindicato. Contudo, Christopher Balding e Donald Clarke não concordam com isto. Dizendo:

“A empresa que opera normalmente no mercado é 100% detida por uma holding. Que por sua vez, 1% pertence ao fundador Ren Zhengfei, e os outros 99% pertencem a um ‘Trade Union Commitee’. É aqui que as coisas se complicam, visto que não fazemos ideia de como este comité foi originado, e quem os líderes são. Aliás, se este comité for similar ao que acontece na China, então a Huawei é mesmo propriedade do estado.”

Para esta questão, a Huawei não tem uma boa resposta, apontando para a independência do comité. Ainda assim, apesar de tudo isto ser um pouco suspeito… Não passa disso, não é nenhuma prova avassaladora que somos espiados forte e feio pelos Chineses. É apenas uma suspeita legítima.

2. A Huawei recebe muito dinheiro do estado

Outro dos argumentos mais populares, é que a Huawei recebe subsídios super avultados vindos diretamente do Governo Chinês. De tal maneira, que os seus produtos podem ser lançados no mercado a um preço mais baixo em relação aos seus concorrentes diretos. (Apesar das especificações serem similares ou melhores)

O que é verdade! A Huawei recebe realmente bastante dinheiro vindo do Governo Chinês… Mas na verdade, todas as empresas deste tamanho recebem ajuda estatal!

Se formos pesquisar um pouco, vamos perceber que a Ericsson recebeu 70 milhões de dólares do governo Norte Americano, enquanto a Cisco recebeu aproximadamente 44 milhões. Se por acaso ainda não está convencido, a Boeing recebeu dezenas de milhares de milhões de dólares.

3. A Huawei é obrigada a ajudar o Governo Chinês?

Por último, temos a questão da obrigatoriedade da Huawei em ajudar o seu governo, devido à Nation Intelligence Law. Que por sua vez, já foi esclarecida em Maio de 2018, quando dois advogados (Jihong Chen e Jianwei Fang) testemunharam perante a FCC para elaborar sobre o assunto.

Então, segundo os advogados, a Huawei não só não é obrigada a implementar ‘backdoors’ nos seus sistemas, como também poderá recusar qualquer tipo de pedido vindo do estado.

Em suma, a lei não tem aplicação direta neste caso, porque se destina ao fornecedores de serviço, e não aos fabricantes de hardware que dão vida às redes móveis. Além disso, é algo que está limitado a contra-espionagem doméstica.

Similarmente, a lei tem também um ponto de salvaguarda, que permite às empresas recusar pedidos de ajuda estatais, caso vão contra os direitos e interesses da empresa. Ou violem as leis de outro país.

Curiosamente, a ‘National Intelligence Law’ não é assim tão diferente do US Patriot Act, que também ‘obriga’ os fornecedores de rede móvel a ajudar nas investigações que ponham em causa a segurança nacional dos Estados Unidos.

Investigar o Software e Hardware da Huawei de forma minuciosa? Os Estados Unidos não querem!

Enquanto os Estados Unidos crucificam a Huawei, dizendo que não pode entrar nas infra-estruturas 5G, devido ao perigo de roubo de informação…. O Reino Unido chegou a uma solução bastante mais interessante, metendo várias agências a investigar o hardware e software da gigante Chinesa, de forma a encontrar qualquer ‘backdoor’ ou ‘bug’ mais problemático.

Se a NSA poderia fazer o mesmo? Claro que sim! Mas é algo que nem sequer está em cima da mesa.

Conclusão

Para finalizar, o problema no meio de tudo isto, é que nada foi provado! Nada está claro… Se a Huawei é uma ferramenta de espionagem Chinesa? Não sei! Até pode ser, mas onde estão as provas?

Acaba por ser triste, pelo menos na nossa ótica, ir a um evento da Huawei para o lançamento daquele que podia ser o melhor smartphone do ano… E acabar por ver uma empresa ‘capada’, com medo do seu próprio futuro.

O que acaba por ser terrível também para nós, os consumidores. É que caso não saiba, não existe mais ninguém no planeta, com a capacidade de produção e de implementação de hardware 5G que a Huawei tem. Ou seja, a proibição em cima da Huawei, poderá atrasar o progresso das redes de nova geração durante largos meses, provavelmente anos.

Em paralelo, vamos também perder um dos concorrentes mais interessantes ao domínio Apple/Samsung! Isto, sem necessidade nenhuma.


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