Days Gone é o novo game de ação e aventura que chega exclusivamente para PS4. Nele, o jogador assume o controle do motoqueiro Deacon St. John, que luta pela sobrevivência em um mundo devastado por um apocalipse zumbi. Apesar do enredo até certo ponto clichê, será que a Sony conseguirá emplacar mais uma franquia de sucesso? Confira o review completo:

Um apocalipse zumbi repleto de emoção

Um dos enredos mais explorados no mundo dos games é o apocalipse. Enquanto alguns trazem personagens tentando sobreviver em um mundo devastador por um ataque nuclear, ou até mesmo um acidente cósmico, a maioria esmagadora usa sempre criaturas medonhas como as grandes responsáveis pela destruição.

Days Gone é mais um game que bebe desta fonte. No jogo, você controla Deacon St. John, um motoqueiro que busca sobreviver no que restou do mundo cumprindo missões no melhor estilo 'Freela do Apocalipse'. Ao mesmo tempo, o personagem precisa conviver com lembranças boas e ruins, muitas delas envolvendo sua esposa Sarah e seu falecimento.

Essas lembranças surgem a todo momento e formam um enorme quebra-cabeça que só é montado no final do jogo, com direito a muitas surpresas pelo enredo. Por esse conjunto, Days Gone acaba se sobressaindo em relação aos seus concorrentes, ou seja, jogos que apostam na mesma temática. Me arrisco a dizer que por alguns momentos o game me fez lembrar outra franquia exclusiva da Sony: The Last Of Us, não pelo desenrolar da trama, mas pela emoção muito bem aplicada em alguns eventos.

Campanha confusa e longa demais

Apesar de contar com uma história envolvente, Days Gone acaba dando um tiro no pé na forma com que expõe isso ao jogador. Ele sofre de um problema que envolve grande parte dos jogos de mundo aberto: a quebra de ritmo da história. Por exemplo, em determinado momento, Deacon segue uma trajetória para ajudar seu companheiro de estrada. De repente, essa mesma muda completamente com um evento paralelo. Ou seja, o personagem simplesmente ignora o fato de que necessita ajudar seu amigo (com uma certa urgência) para ter que resolver atividades que facilmente poderiam ser deixadas para depois.

Isso poderia ser um problema no qual o jogador poderia optar por priorizar ou não. Ou seja, ignorar essas atividades paralelas para focar na missão principal. Só que o próprio enredo faz com que isso se embole de uma forma que acaba quebrando o ritmo da narrativa, as vezes até deixando o jogador confuso sem saber o que é prioridade.

Isso acaba gerando uma outra discussão: a confusão na hora de exibir ao jogador as atividades. Ao contrário de muitos outros jogos, Days Gone não traz uma marcação para as missões principais, uma vez que há uma série delas rolando ao mesmo tempo. Para ser mais específico: há diversas histórias se desenvolvendo ao mesmo tempo, com uma porcentagem mostrando o quanto elas foram completadas, sendo que em muitos casos é preciso fazer missões de outras histórias para que elas apareçam. Ficou confuso? imagine na prática!

Para completar, há um certo exagero na inclusão de cenas de animação. Por mais que boa parte delas sejam interessantes e complementem o enredo, muitas poderiam ser resumidas em um simples diálogo. Se não bastasse, ainda há momentos onde é preciso jogar partes que poderiam ser exibidas em uma simples CG. Fiquei com a sensação de que o tempo de jogo, que passa das 30 horas, foi um pouco forçado e poderia ser facilmente encurtado.

Cruzando o apocalipse sobre duas rodas

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Get your motor runnin'; Head out on the highway. Lookin' for adventure; And whatever comes our way
— Steppenwolf, Born To Be Wild

O trecho da famosa música de Steppenwolf parece ter sido escrito para resumir suas atividades em Days Gone. Como Deacon é um motoqueiro, obviamente boa parte do tempo você está em cima de uma moto cruzando as enormes estradas do mapa. Curiosamente, a forma com que essa jogabilidade é apresentada, consegue ser melhor do que muitos títulos específicos de moto, trazendo um realismo na pilotagem fora do comum em jogos do gênero Open World.

E a sua moto é como uma coadjuvante na história. Além de poder personaliza a aparência e adicionar melhorias, é preciso ter um cuidado enorme com a mesma, como sempre procurar deixar o tanque de combustível cheio, e reparar os danos que a mesma sofre ao longo do jogo. Isso faz com que você tenha um receio fora do comum ao optar por seguir o caminho indicado do GPs, do que se aventurar a pegar um atalho floresta a dentro e acabar destruindo parcialmente o veículo.

Falhando nos combates

Days Gone traz além de um sistema de tiro, a possibilidade de resolver tudo no braço. Como a munição do game é até certo ponto escassa, a solução é sempre ter uma arma branca que sirva para momentos onde os tiros não são tão eficazes, como nos combates contra zumbis solitários ou desprevenidos.

A forma com que esse sistema é apresentado, tinha tudo para agradar. Há um leque enorme de opções para criar e incrementar pedaços de madeira, tacos de beisebol, e até pernas de mesas. Mas na prática há falhas demais, como o personagem deslizando pelo cenário para acertar um oponentes, inimigos atravessando suas armas e um tempo de resposta maior que o normal para desferir um golpe.

A tragédia fica maior ainda quando há confrontos com animais. Nos testes, tive uma dificuldade absurda de derrotar uma matilha de lobos pelo simples fato dos golpes não sincronizarem com as posições dos animais, em um claro problema de programação e execução. O mesmo vale para tiros que não acertam mesmo com a mira posicionada corretamente. Sem falar na falta de I.A., que faz com muitas vezes eles fiquem parados no meio do combate, agindo completamente diferente do seu instinto animal. Por mais que esses problemas sejam bugs que podem (e deverão) ser corrigidos em futuras atualizações de melhorias, ainda sim atrapalham bastante o desempenho do jogo.

Habilidades moldam o seu personagem

Como de praxe em jogos de mundo aberto, Days Gone traz um sistema de evolução com uma árvore de habilidades. Elas se dividem em três segmentos: Combate Corpo a Corpo, Combate à Distância e Sobrevivência.

Como os próprios nomes dizem, cada um desses segmentos molda o personagem à uma característica específica. O primeiro faz com que Deacon seja mais efetivo nos combates e no uso de armas brancas, o segundo aumenta as habilidades com armas de fogo, e o último faz com que o personagem seja mais furtivo. Nos testes, optei por evoluir mais essa árvore de Sobrevivência. O resultado foi um personagem mais sorrateiro, o que favoreceu muito na hora de poupar balas e armas para resolver as missões.

Dificilmente um jogo consegue separar muito bem esse tipo de habilidades. Nesse ponto, Days Gone merece elogios ao permitir que cada jogador molde tão bem as características de seu personagem de acordo com o seu gosto. Entretanto, é preciso se dedicar muito para conquistar os pontos de experiência, já que os mesmos não vem em abundância após completar as missões.

Caçando e sobrevivendo a avalanches de zumbis!

Outro elementos do gênero Open World que Days Gone aplica em seu jogo são as diversas atividades paralelas ao longo de todo o enredo. Elas variam desde simples missões de caça até eventos mais complexos, como sobreviver a uma avalanche de zumbis, que por muito tempo foi o cartão de visitas do game em trailers e exibições fechadas.

Em termos de qualidade, Days Gone acaba priorizando muito mais algumas atividades do que outras. Aproveitando para pegar os dois itens como exemplo: caçar é uma atividade um tanto sem graça e falha. Nos testes, em uma das primeiras missões que funcionam como um tutorial para a atividade, me deparei com um conjunto de cervos presos em um pedaço do cenário. Já sem munição, acabei abatendo todos eles com bombas caseiras e coquetéis molotov. E pasme, suas respectivas carnes não sofreram nenhum dano ou custaram menos quando vendidas.

Já com a famosa avalanche de zumbis, o game consegue reproduzir o efeito muito bem. Apresentada ao mundo pela primeira vez no filme World War Z - que curiosamente recebeu um game de mesmo nome na semana passada - Days Gone se aproveita da impactante cena para criar um desespero ao jogador, que nada pode fazer quando atingido pela onda de mortos-vivos. Para vencer o desafio, é preciso criar armadilhas pelo caminho, em uma espécie de Tower Defense na área. No fim, acabou se tornando uma das atividades mais divertidas, superando até mesmo o título baseado no filme que tentou também recriar a cena, mas sem o mesmo êxito.

Visual agrada no realismo e nas mudanças climáticas

Falando da parte gráfica, Days Gone comete alguns deslizes, mas no fim das contas ainda conseguem impressionar. Apesar de apresentar um mapa gigantesco, de ponta a ponta é possível notar o capricho e o esforço em deixar tudo muito próximo do real, passando sempre a sensação de percorrer um mundo devastado, desde o vazio das estradas, até a destruição espalhada por todos os cantos.

Gostei muito da forma com que os efeitos climáticos são apresentados ao jogador. Ao invés de seguir o clichê de uma chuva inesperada, há todo um cuidado em mostrar a mudança de tempo, com um vento mais intenso atingindo a vegetação ao redor e a luminosidade diminuindo com o chegar das nuvens. Com a chuva rolando, apesar da jogabilidade não ser impactada, o visual muda radicalmente, com lama no lugar de terra batida, um asfalto mais reluzente com a água e Deacon com o seu visual alterado, ou melhor, molhado.

Já com os personagens, embora os protagonistas e coadjuvantes tenham feições realistas e expressões faciais convincentes, com as criaturas não podemos dizer o mesmo. Elas sofrem de um mal que também assola outros jogos: a falta de variedade de oponentes. Óbvio que não dá para fazer um jogo com mais de vinte personagens diferentes ao mesmo tempo, porém, há uma mecânica simples para se programar itens com valores variados - nesse caso aparências distintas.

Days Gone não executa essa fórmula muito bem, apresentando em um mesmo combate seis - ou até mais - personagens idênticos com as mesmas feições e vestimentas. Isso acarreta em uma confusão não apenas visual, mas que também prejudica o jogador deixando-o sem saber se aquele mesmo oponente foi derrotado ou se trata de outro. Um erro que, infelizmente, ainda é comum em boa parte dos jogos, mas que já passou da hora de ser corrigido.

Dublagem é um show à parte

O game chega totalmente localizado ao Brasil. Isso quer dizer que Days Gone está com legendas e dublagem em português. Essa por sua vez merece destaque, já que a escolha dos personagens e suas respectivas vozes foi muito assertiva, principalmente em momentos onde o game opta por passar ao jogador um pouco mais de emoção.

Só fica uma leve crítica aos longos diálogos feitos pelo rádio de sua moto. Esses poderiam ser mais nítidos, já que muitas vezes não é possível entender completamente o que estava sendo enviado. Ok, há uma opção de legenda para esses mesmos diálogos, mas sabemos o quanto é errado e complexo pilotar e ler ao mesmo tempo.



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