Estávamos em meados de 2017 quando a Apple reuniu programadores para a WWDC, sua principal conferência. Já é tradição: todo ano tem um vídeo eletrizante que mostra pelo que passam estes profissionais. Eu estava lá e vi os programadores vibrando com um filme que imaginava como seria o verdadeiro apagão dos aplicativos. Imagine só: de repente, os principais sistemas que usamos todos os dias deixam de funcionar. Todo mundo offline.
A empresa chamou a situação de “Appocalypse”, numa brincadeira que mistura “app” com o termo bíblico. Pode parecer uma obra surrealista, mas a verdade é que todos os dias ocorrem blecautes com plataformas das quais muita gente depende. São indícios do quanto dependemos da tecnologia para tarefas simplíssimas, corriqueiras, e por isso mesmo, tão importantes.
Tome como exemplo o que ocorreu no último dia 10. Milhões de pessoas pelo mundo acordaram, foram para as suas tarefas diárias, buscaram uma musiquinha para criar aquele clima. Na hora H, o Spotify não funcionava. Nada de ouvir a playlist de Sandy & Junior. O turu turu ficou pra depois.
Clientes do Nubank passaram sufoco. Como pagar os boletos que venceriam naquele dia? O banco digital chegou a se comprometer com o custo dos juros caso o apagão continuasse. Felizmente, foi questão de tempo até tudo voltar ao normal.
O problema estava relacionado com um componente que o Facebook oferece para criadores de apps. O sistema deu pau e derrubou diversos programas hoje em dia tidos como essenciais. Alguns motoristas ficaram até mesmo sem o Waze, segundo relatos nas redes sociais. Certamente algumas pessoas chegaram atrasadas aos compromissos.
WhatsApp fora do ar. Ainda não temos explicações para o que motivou o problema do dia 14, mas o principal mensageiro do país também saiu do ar, interrompendo mensagens de amor, DRs, pedidos de quentinha e até a minha mensagem pedindo para a vó não dar mole na rua em tempos de corona.
Não foi a primeira, nem a segunda vez que isso acontece. Aliás, parece que a recorrência aumentou agora que todo mundo está em casa e passa a vida com a cara enfiada na tela – do notebook, da TV, do celular, do tablet e do espelho do banheiro, se fosse smart.
Terminado o expediente, uma horda de guerreiros corre para os games para aproveitar o restinho do dia. Os títulos online dispensam a logística de entregar a mídia física na casa do participante da jogatina. Ao mesmo tempo, abre brecha para que os intrépidos jogadores fiquem sem Valorant por quase uma hora.
O motivo? Um errinho de digitação na configuração de um roteador nos Estados Unidos. O aparelho pertence à Cloudflare, uma das maiores empresas de infraestrutura de rede do planeta.
Corta de volta para o filme da Apple. Nele é retratado um desenvolvedor desavisado que puxa o fio da tomada e derruba os apps por engano. Na vida real não é tão simples. Ao mesmo tempo, chega a ser engraçado porque os sistemas param de funcionar e deixam a gente na mão, olhando para a telinha sem nada para exibir.
Eu sei que nem sempre é possível, mas às vezes pode ser um convite para encarar o mundo real. Ainda que da janela, usando um binóculo e seguindo todos os protocolos de segurança.
Não posso encerrar este texto sem te alertar: a tendência é que a situação se repita com mais frequência conforme dependemos mais das ferramentas digitais, conectadas, universais. Acostume-se com os soluços online.
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